terça-feira, 12 de julho de 2011

Zombie Boy é belo? Como assim?

por Cássia M. B. Nascimento

Certo dia, falando com uma amiga, elogiei o modelo Zombie Boy, aquele com o corpo praticamente inteiro tatuado como um esqueleto. Muito contrariada, a amiga afirmou que aquilo era muito feio, feio mesmo! Este episódio me fez refletir sobre o quão importante é o conceito de Belo.


Muito facilmente o Belo é atribuído ao que é agradável, ao que é padrão ou aceito por uma maioria.
Para encontrar um argumento acerca da questão, recorri aos primeiros filósofos que buscaram definir acerca do Belo.
Para Platão, o belo é o bem, a verdade, a perfeição; existe em si, apartado do mundo sensível.
Já Aristóteles, partindo do conceito de arte enquanto criação, acredita que o belo seja inerente ao homem, portanto não pode estar num mundo apartado daquilo que é sensível ao homem. Neste sentido, o Belo de uma obra de arte está em critérios como proposição, simetria e ordenação, tudo em sua justa medida.
Sem contrariar, mas dando continuidade aos pressupostos aristotélicos, Theodor Adorno, no livro Teoria estética afirma que do objeto de arte emana o Belo: capaz de arrebatar o fruidor da arte.


Para melhor se compreender acerca do Belo, Adorno assim esclarece:

De certo modo, o belo surgiu do feio mais do que ao contrário. Mas, se o seu conceito fosse posto no índex, como muitas correntes psicológicas procedem com a alma e numerosos sociólogos com a sociedade, a estética tinha de se resignar. A definição da estética como teoria do belo é pouco frutuosa porque o caracter formal do conceito de beleza deriva do conteúdo global do estético. Se a estética não fosse senão um catálogo sistemático de tudo o que é chamado belo, não existiria nenhuma idéia da vida no próprio conceito do belo. No que visa a reflexão estética, o conceito de belo figura apenas como um momento. A idéia da beleza evoca algo de essencial na arte sem que, no entanto, o exprima imediatamente (ADORNO, 1970, p.65).

E mais adiante:

Belo, na natureza, é o que aparece como algo mais do que o que existe literalmente no seu lugar. Sem receptividade, não existiria uma tal expressão objetiva, mas ela não se reduz ao sujeito; o belo natural aponta para o primado do objeto na experiência artística subjetiva. Ele é percebido, ao mesmo tempo, como algo de compulsivamente obrigatório e como incompreensível, que espera interrogativamente a sua resolução. Poucas coisas se transferiram tão perfeitamente do belo natural para as obras de arte como este duplo caráter. Sob este aspecto, a arte é, em vez de imitação da natureza, uma imitação do belo natural (ADORNO, 1970, p.87).

Percebe-se que, ao tratar do belo, a reflexão de Adorno faz uma crítica à arte vinculada à ideologia dominante e reconhece o que é verdadeiramente relevante à arte: ser emancipadora, capaz de tirar o sujeito de sua situação de submissão a uma realidade predeterminada e torná-lo voz (o artista) e receptor (o que aprecia a arte) de um grito contrário à opressão. Retifica-se aí a necessidade de fugir a propósito tradicionais e limitadores à expressão artística, para Adorno: "no Novo se articula a juntura do indivíduo e da sociedade" (ADORNO, 1970, p.33). E é nessa arte verdadeiramente viva que se pode perceber as relações entre arte e sociedade, principalmente em se tratando do olhar do artista acerca de sua crítica à opressão.
O modelo que se expõe diferente de um padrão, tatuado, como normalmente não se espera de um modelo no mercado, foge da regra, foge do que comumente é aceito pela maioria e assume em si o discurso de grito contrário à opressão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário